terça-feira, novembro 22, 2005

A família Carvalho

Certo dia, a filha Carvalhinha ao acordar depois duma noite ventosa, reparou que a sua frondosa e verdejante copa adquiria uma tonalidade amarelada. Ficou preocupada. Já tinha reparado que as suas amigas do jardim sofriam desta transformação mas pensava que era uma nova moda, que a tendência deste Inverno fosse folhas amarelas. Ficou impressionada e perguntou à mãe Carvalha a que se devia aquela situação. “Não te preocupes, filha. É da época do ano.” Aceitou a resposta, embora a inquietude daquela mudança a acompanhasse. Mas tinha tantas coisas para fazer, tinha tanto ar para purificar… Acabou por se distrair e se abstrair do desassossego matinal.
Chegou ao fim do dia tão cansada… Para além das obrigações, divertia-se imenso nestes dias de Inverno, com a chuva e o vento… balançava os ramos em sintonia com as suas amigas ao som duma melodia que só elas conseguiam decifrar. “O Outono é divertido!” foi o seu último pensamento antes de cair num sono profundo.
Ao acordar, depois de esticar bem o tronco e abanar os ramos, olhou para os pés e viu uma manta amarela a cobrir a terra em seu redor. Ao observar melhor, reparou que eram as suas folhas que estavam no chão. O que é que se passava com ela? Qual seria o porquê daquela queda de folhas? Estaria doente? Mais uma vez inclinou-se para a mãe e questionou-a sobre aquele mal que a invadia.
A mãe Carvalha, divertida com aquela inquietação da filha, tranquilizou-a com um daqueles sorrisos de mãe que num segundo transmitem toda a segurança precisa e passou a explicar-lhe: “Todos os anos passamos por isto. Já viste como eu estou despida? E o teu pai? Todos nós no jardim… É que agora está frio e as pessoas querem aproveitar todo o solzinho que puderem. Então as nossas folhas caem para não que não haja tantas sombras. Quando chega o tempo bom, em que as pessoas têm mais calor e anseiam por um bocadinho de sombra, os nossos ramos cobrem-se de novas e mais fortes folhas para os proteger do calor.”
“Mas mãe, para além de todo o bem que fazemos a estas pessoas, é mesmo preciso este sacrifício? Acho que eles nem gostam… Este ano os primos ficaram todos chamuscados… Acho que é por que as pessoas não querem mais a nossa ajuda.”
“As pessoas nunca estão satisfeitas com o que têm. Talvez quando perceberem o bem que lhes fazemos seja tarde demais.”
“Esperemos que não”, retorquiu a inocente Carvalhinha. “Agora vou purificar o ar e depois exercitar-me um bocado. Não quero que as minhas amigas me vejam com os ramos desnudados neste estado. Tenho de estar em forma!”

6 comentários:

Anónimo disse...

...formidável...este blogue parte-me todo...
AST

a_mais_linda disse...

Que história mais fofa!!!!!
Não tenho mais nada a acrescentar!

hcg disse...

Caras senhoras (espero bem que sejam senhoras senão isto é um bocadinho suspeito...),

Uma vez que o vosso blog conseguiu atingir os antros obscuros da vida académica (embora ligeiramente, mas sem malícia, à bruta), venho por esta forma dar as boas vindas a esta nova visão do mundo.
Espero que tenham muito para escrever e que se estejam a cagar (desculpem o termo mas o meu português não permite mais) para quem não vos compreende. Escrvam cm abrviatrs, eskrevam kom kapas, inventem uma nova língua; escrevam. É isso que interessa.

Boa sorte!

a_mais_linda disse...

Obrigada pelo apoio!

Dra. Laura Alho disse...

Encantadora esta história :)
Um beijinho doce e boa semana *

Mamã artesã disse...

Uma história linda que só uma mente brilhante poderia inventar.
Parabéns pela imaginação.
Joquinhas
Sofia